Análise #14 - Tomb Raider

Já virou moda para alguns produtoras de jogos aproveitar a marca de uma série conhecida no mundos dos games para lançar títulos aos montes, com qualidades pífias e inteiramente criticados por boa parte dos consumidores. O mesmo já aconteceu com o famigerado DmC: Devil May Cry e está para acontecer com outra série da Capcom. Porém, a Crystal Dynamics, a atual responsável pela série Tomb Raider, ensinou por A + B que há maneiras espetaculares de tratar uma série de sucesso com respeito e criar um produto de qualidade. O novo Tomb Raider é a minha mais nova vítima do quadro Análise!


O novo jogo da série, sendo um reboot da franquia, traz uma nova Lara em uma nova história, contando o começo da vida da personagem como uma arqueóloga e aventureira. Bem, no caso desse jogo, como uma sobrevivente também. O navio de Lara e sua tripulação, que viajavam para um local a fim de iniciar uma expedição, foi vítima de uma forte e estranha tempestade, encalhando todos em uma ilha contendo um mistério sobrenatural. Na ilha, Lara se vê sem escolhas a não ser encontrar uma maneira de escapar do lugar e desvendar o mistério.

Enquanto a trama progride, é notável a evolução da Lara como personagem. No começo, vemos uma mulher inexperiente que está aprendendo a se virar no meio dos perigos que estão pela frente. Vemos o sofrimento dela falar mais alto nas cenas, fazendo um grande apelo dramático em como a personagem se sente naquela situação. Isso fica ainda mais plausível quando escutamos a dublagem da Lara, que foi competente em passar ao jogador as sensações de dor e, quase sempre, da respiração da personagem nos momentos com menos ou mais ação.


No decorrer da história, o que vemos é a grande mudança da heroína para algo mais parecido com o que comecemos da antiga Lara Croft, destemida e voraz em frente ao perigo. Há uma cena no jogo com a primeira morte que Lara comete com uma pistola: é extremamente perceptível a reação dela tomando consciência do ato e essa sensação é passada com exatidão ao jogador. Porém, depois de algumas horas de jogo, vemos Lara descendo chumbo a rodo nos inimigos. Esse ponto da mudança de atitude é importante justamente para exaltar o principal fator do gameplay. Mesmo que a Lara tenha que matar dezenas para chegar ao objetivo, o jogador não faz isso para efeito de experiência de jogo. O marco primordial desse jogo é justamente a sobrevivência.

O combate em si não é diferente do que já vimos em jogos de tiro em terceira pessoa. Tem muito daquela mecânica "hide-and-shoot" dos TPS lançados nessa geração. O diferencial aqui é como a mecânica do combate foi usada para trabalhar em cima do fator sobrevivência. Quando você mata um inimigo, você pode coletar munição e fragmentos dele para melhorar seus equipamentos e armas. Há checkpoints no jogo, como espécies de acampamentos, onde você usa os fragmentos nas armas para adquirir melhoras como maior dano ou mais precisão no manuseio delas.

No começo, o jogo apresenta esse sistema de maneira rápida, mas você pega o jeito rapidamente pois, como é normal em uma situação onde ou é lutar para sobreviver ou morrer, vira uma rotina natural cuidar do seu arsenal ao longo da jornada da heroína. O jogador também ganha experiência pelas vitórias em combates e subindo níveis permite adicionar pontos de habilidades inatas como caçadora, combatente e sobrevivente.

Fora os princípios genéricos do combate, um ponto que foi bem trabalhado em Tomb Raider é a interação do cenário. Seja nos momentos de escalada ou na resolução de quebra-cabeças, o jogo tende a usar os elementos do mapa com muito interatividade. Até mesmo no combate, como por exemplo, o ato de atirar uma flecha na parede próxima a um inimigo, podendo confundí-lo e dar uma vantagem imensa no confronto.

Após a conclusão do jogo, você tem todo o mapa do jogo para explorar e encontrar segredos como tumbas escondidas em pequenas entradas espalhadas. Sim, como é de se esperar de Tomb Raider, o jogo contém tumbas a serem exploradas. Lógico que os cenários onde você mais vai se encontrar serão tumbas mas estamos falando de tumbas opcionais. São mais curtas e menos interessantes, mas ajudam pra caramba no quesito replay do jogo. Alías, falando da interação do cenário... Que cenário, hein?!


Graficamente, o jogo é espetacular. Cenários ricos em detalhes e as animações dos modelos ficaram muito boas. Quem joga a versão de PC, é agraciado com a exclusiva tecnologia chamada TressFX. Essa tecnologia nova da AMD, que estreou em Tomb Raider, permite mais realismo na modelagem e movimento dos cabelos dos personagens. A Lara ficou poderosa com o cabelo no TressFX: ela pode ter todo o seu corpo esbelto ensanguentado, mas o cabelo ainda está lá, firme e forte (piada sem graça, mas valeu a tentativa...).

É uma adição interessante, porém pesada. Para rodar o jogo no máximo, vai ser necessário uma configuração de ponta, justamente por conta do TressFX animar muitos mais fios de cabelo ao mesmo tempo. Nos consoles, essa novidade está de fora, devido à limitação de hardware. Fora isso, o jogo é bonito e não desaponta visualmente. Com já virou costume dos jogos hoje em dia, cenas interativas com apelo cinematográfico vão acontecer com uma certa frequencia no jogo. Ajudam a manter o ritmo acelerado da ação e apoia bem a trama, principalmente quando a tela fica cinzenta nos momentos em que você está à beira da morte.

Em termos de duração da campanha, o jogo me desafiou por cerca de 12 horas até a última ação tomada. Dentro desse período, o jogo entregou bem o conteúdo e me divertiu bastante. Provavelmente, a motivação que vai vir da maioria dos jogadores será de encontrar todos os segredos, que não são poucos. A experiencia do jogo é muito bem servida no modo singleplayer, mas no multiplayer as coisas não foram tão bem assim. Tá, o combate no multi pode divertir sim, mas acho que não será o suficiente para manter o jogo rodando no seu PC ou console por muito tempo.

REFLETINDO TOMB RAIDER

Como eu deixei claro no começo da análise, Tomb Raider é um reboot e como tal deve seguir a linha dos jogos anteriores trazendo uma nova experiência. É notório o excesso de ligação com as características tendenciosas que o jogo herdou do mercado atual (vide excesso de violência se tornando algo extremamente comum) e do baixo nível de dificuldade comparado a outros títulos da franquia. Nesse lado, o jogo sucede vitorioso.

Mesmo sendo um novo começo para a série, há muito apelo para os fãs da antiga Lara (eu incluso), pois o jogo abraçou perfeitamente o espírito dos Tomb Raiders que jogamos alguns anos atrás. Além de que o título não negligenciou o público mais novo para a série, não só por causa do apelo cinematográfico, mas também de uma pequena função no jogo, chamado Instinto de Sobrevivente, que mostra ao jogador os pedaços do cenário onde ele pode interagir de alguma forma. Eu defendo que reboots são uma ótima maneira de abrir portas para um novo mercado e Tomb Raider se sai bem nesse ponto.

CONCLUSÃO

A Crystal Dynamics acertou em cheio nessa nova versão. O novo Tomb Raider é divertido no singleplayer, entregando uma história envolvente e empolgante e uma grande dose de exploração em função da diversão do jogo, entregando excelentes visuais e uma experiência singleplayer sólida. Apesar do multi fraco, o jogo possui um conteúdo robusto e pode manter o jogador entretido por bastante tempo. Até lá, podemos esperar grandes surpresas da produtora de Tomb Raider. Quem sabe o próximo título da série...

NOTA FINAL

9

Nenhum comentário:

Postar um comentário