Análise - Bem vindo ao universo de Sayonara Zetsubou Sensei


Se imagine andando num parque numa manhã alegre de primavera, e, de repente, encontra um homem se enforcando numa árvore. O que você faria? É com essa imagem que nos deparamos com o começo de uma das maiores séries satíricas japonesa, chamada Sayonara Zetsubou Sensei (Adeus Professor Desespero).


Uma série sobre suicídio?
Sayonara Zetsubou Sensei conta a história de Itoshiki Nozomu, um professor que está sempre deprimido com a vida, e seu maior hobby é tentar se matar, apesar de ter um medo terrível dela. Seu nome, quando escrito na horizontal, forma a palavra japonesa desespero (zetsubou). Nozomu leciona para a turma 2-F, aonde os alunos são um mais estranho que o outro, o que somente agrava mais ainda seu desespero.
Apesar de parecer uma série de humor random ou uma série de romance escolar, Sayonara Zetsubou Sensei se trata, na realidade, de um mangá de debate, sempre tratando de trazer um novo tema a cada episódio. A série funciona da seguinte maneira: Nozomu trás para a sala um assunto que está lhe incomodando e todos iniciam um debate que nem sempre chegam a uma resposta satisfatória, deixando ao cargo do público escolher quem tem razão. Para acompanhar esse tipo de série foi usado o humor no estilo Boke e Tsukkomi, tendo um personagem como o inteligente e outro como o engraçado. 
Também temos, durante a série, as piadas do quadro, que se acabaram se tornando marca registrada da série. Durante o episódio, lousas, cartazes, tela de censura, entre outras coisas, recebem uma piada nova a cada jogo de câmera. Por exemplo: numa cena temos o professor Nozomu de costas para o quadro negro, e, no quadro negro, tem uma piada sobre cigarros. Mas depois a câmera muda para mostrar outro personagem. No momento que a câmera voltar a focar no professor, tudo que estava escrito no quadro será substituído por um desenho ou outra piada.

Uma abertura um tanto perturbadora
Quando falamos da abertura de Sayonara Zetsubou Sensei, pensamos que a abertura tem que ser o mais louca possível. Na realidade, é bem isso mesmo. Sayonara Zetsubou Sensei recebeu 3 aberturas perturbadoras, sem falar das 3 paródias da segunda abertura e 2 da terceira, que chegam a ser mais estranhas ainda. Mas de nenhuma forma existe uma queda de qualidade nelas. Pelo contrário, as músicas são excelentes, e os desenhos são como água no deserto. Series japonesas de comédia nesse estilo tem o hábito de mostrar garotas em posições eróticas, isso quando não fazem aberturas "gay" demais (vide as de Baka to Test). A Shaft usou heavy metal e cenas sem nexo, somente pensando que isso se trata de um clip musical.
O que torna ainda mais as aberturas de Sayonara Zetsubou Sensei únicas, é o fato de que quem canta elas são as próprias dubladoras, mais o cantor Kenji Ohtsuki. É um cuidado extremo na produção delas, que resulta em coisas incríveis que somente poucos estúdios sabem fazer.
E falando ainda nas músicas, nem preciso falar sobre as músicas de ambiente que acompanham a série. Algumas são calmas, outras agitadas, e outras completamente fora de contexto, mas não poderiam estar em lugar mais correto. Foi um dos melhores trabalhos sonoros que eu já presenciei numa série japonesa, e não falo isso porque sou fan da Shaft. Falo isso porque Tomoki Hasegawa realmente fez um ótimo trabalho nas músicas.


A Shaft e seus desenhos
Falar de Sayonara Zetsubou Sensei e não falar nada sobre o trabalho de arte da Shaft seria uma grosseria de minha parte. A Shaft não só se empenhou no projeto, como também testou diversos tipos de arte com o decorrer dela, que vieram a ser usados futuramente em séries como Arakawa Under the Bridge, Bakemonogatari e, mais recentemente, Puella Magi Madoka Magica. 
Existem alguns episódios que foram usados como cobaias para testes, como, por exemplo, o episódio do trem, aonde todo o cenário ficou no estilo recorte. Ou no episódio aonde a cada minuto o estilo do desenho era trocado, chegando a até ser uma série de macinha de modelar. Mas, obviamente esses episódios se tornam enfadonhos rapidamente, mesmo que as piadas estejam engraçadas. Eu diria que somente 2 episódios foram chatos demais por causa disso.
A arte na maior parte da série tem traços simples, algo que não se é utilizado em mangás com muita frequência. Quem o acompanha sabe que não aparenta ser tão difícil desenhar, por exemplo, a Fuura Kafuka. 
Para acompanhar esses desenhos, temos os famosos jogos de câmera da Shaft, que nos obrigam a admirar todo o desenho em sí, e não somente se focar no personagem. Claro que não é algo exagerado que nem foi Bakemonogatari (e que no fim deu certo), mas é o suficiente para obrigar o cenário a "viver". 
Até quando está se focando nos personagens, existe algo no fundo que nos tira a atenção. Seja um cãozinho com um palito na bunda, uma piada de quadro, a Kaere e sua calcinha ou um cameo do Chitan (Katte ni Kaizou), algo sempre estará no fundo do cenário.

A variedade de personagens
No início da série, somos apresentados ao personagem principal, o Itoshiki Nozomu, e a personagem que faz contraste a personalidade do professor, a garota super positiva Fuura Kafuka (não é o nome verdadeiro). Nesse momento temos a impressão de ser uma história de romance colegial, aonde o professor, que não via motivo de viver, passa a mudar de ideia a cada dia que passa com sua aluna. Koji Kumeta já mostrou, após 11 edições do mangá, que Sayonara Zetsubou Sensei não tem desenvolvimento. A primeiro momento temos um pequeno desenvolvimento delas, somente para explicar o fato de que boa parte das alunas da sala estão apaixonadas pelo professor. Depois disso, o romance passa a ser parte das inúmeras piadas que o anime tem.
A variedade de personagens da série se torna um atrativo, pois as piadas podem variar sempre. Temos a Kitsu Chiri, que tem a mania de perfeccionismo, a Hito Nami, que é uma garota normal, a Otonashi Meru, que tem vergonha de falar e se comunica, de uma maneira nem um pouco educada, através de um celular, o Usui Kagero, que só pode ser visto quando sua falta de cabelo se torna evidente, a Kobushi Abiru, que vem toda enfaixada para o colégio por causa de violência doméstica, a Kimura Kaere/Kaede, que sofre de dupla personalidade e só existe para mostrar a calcinha, e a lista de personagens vai indo. 
Nessa festa de personagens, até mesmo o autor e seu assistente entram em cena. Koji Kumeta aparece algumas vezes, mas sempre para falar da sua infelicidade de trabalhar como mangaka, enquanto Maeda-kun (vulgo MAEDAX, MAEDAXG ou MAEDAXR) aparece para dizer o quanto ele odeia trabalhar para o Kumeta, e que queria ser assistente de Kenjiro Hata, autor de Hayate no Gotoku e ex-assistente do Kumeta. 
A série não é só feita de personagens visíveis, mas até aqueles que passam despercebido estão dando suporte ao humor, como o cãozinho com o pau na bunda, a cegonha a jato, o emperador pinguim e o Tsubouchi Chitan , de Katte ni Kaizou, que somente aparece para fazer cameo. 

Apesar de ser uma série recomendada para um público mais maduro do que a revista propõe, e que tenha um grande conhecimento do Japão, Sayonara Zetsubou Sensei conseguiu se consagrar como uma das maiores séries de humor, que você irá assistir e nunca irá se cansar dela. Se você não curte anime, esse é um que talvez agrade até a você.

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