Análise - Bem Vindo ao Universo de Gintama

Entre as obras da Shounen Jump, existe uma que tem recebido um grande destaque atualmente, principalmente aqui no Brasil, que até pouco tempo era desconhecida com seus 200 capítulos. Aos trancos e barrancos, ela conseguiu se erguer entre os mangás mais importantes da revista, ao lado de Naruto, One Piece e Bleach. Mesmo com as baixas vendas, ainda sim é uma das melhores obras de comédia e ação que eu não via a muito tempo. Apresento a vocês um dos melhores mangás de comédia atualmente: Gintama (Alma de Prata).

Edo: A Terra dos Samurais

Gintama se passa num Japão fictício, na qual foi dominado pelos alienígenas chamados Amantos. Os samurais lutaram durante muito tempo para impedir que os alienígenas dominassem o shogunato, mas não puderam resistir por muito tempo, sendo quase todos mortos. Os que sobreviveram foram proibidos de carregar espadas, além de se tornarem nada mais que um bando de mendigos. Mas existem alguns samurais que ainda não perderam o espírito dos samurais, e um deles é o lendário "Demônio Branco" Sakata Gintoki, atualmente fazendo alguns bicos para ganhar dinheiro para pagar o aluguel do apartamento aonde mora.

O enredo de Gintama é algo muito simples, sendo que a primeiro momento não tem como enchergar um modo de se aprofundar na história. Até de começo vemos que se trata de uma série episódica sem nenhum objetivo além de satirizar com as obras da Shounen Jump. Mas com o passar do tempo vemos que Gintama não é uma série completamente de humor, tendo suas cenas de ação nos devidos momentos. Basicamente a história é dividida na seguinte dinâmica: Parte Humor e Parte Ação.

Durante a parte de humor, o autor não mede barreira para a humilhação dos personagens, desde transformar eles em pranchas de snowboard, a até uma briga pela supremacia na tabela de popularidade. As piadas também não são idiotas como pum, ou personagens comilões, mas como foi dito: humilhação, e nada melhor para humilhação do que boas doses de humor negro.A série também usa referências a outros mangás, jogos, animes, seriados, e até pessoas. Não é necessário que seja japonês, contanto que tenha causado um bom impacto para ser famoso entre os japoneses já está valendo. Normalmente os capítulos humorísticos são: ou episódicos ou arcos, mas os arcos não costumam durar mais do que 3 episódios, para que o público não perca o interesse.

Já a Parte de Ação se inicia inocentemente como comédia, mas logo no final do primeiro episódio já é revelado que não iremos rir por um bom tempo. Normalmente esses arcos são criados para desenvolvimento dos personagens, como o arco "Yoshiwara em Chamas" e o mais recente "Os 4 Devas do Distrito Kabuki". É aqui que conhecemos mais sobre os personagens e suas relações, além de também possibilitar o crescimento deles. O drama é muito bem feito, mas não chega a ser triste, e a ação empolga com belas cenas de pancadaria, algo que nem Dragon Ball Z me deixou satisfeito. Talvez o que dê mais gosto em ver esses arcos é a demora para seus lançamentos. Os arcos de ação são raros em Gintama, mas são a melhor parte da série. Graças a demora do lançamento, Gintama poderá levar anos e anos ainda sendo produzido, e nunca será considerado algo chato.

Isso é Permitido?

Se eu falar que as músicas temas de Gintama são as melhores que eu já ouvi, serei apedrejado, já que boa parte da OST de Gintama não é da série. Por conta das excessivas referências a outras obras, a Sunrise resolveu adotar também as músicas temas dessas obras, como no caso da abertura de Gintama no episódio 183, que nada mais é que uma paródia da abertura de Hokuto no Ken. Seja seriado de TV, seja filme internacional ou seja um anime, a Sunrise irá conseguir os direitos da música. Mesmo assim a série tem suas músicas temas que são usadas com bastante frequência. São muito boas, mas nada tão incrível a ponto de ficar ouvindo o dia todo. Os destaques são Tabemono no Suki Kirai Ooi Nin wa Ningen no Suki Kirai mo Ooi e a música tocada durante a luta contra o Jirocho. 

Quanto as aberturas e encerramentos, Gintama falha muitas vezes, mas normalmente tem umas pérolas em seus meios. Aberturas como Donten e Dilemma existem para demonstrar o que há de melhor na série, enquanto outras, como a clássica Pray e Stairway Generation são até divertidas de ouvir, mas irritam facilmente. Algumas aberturas são alteradas para se encaixar com o evento do momento, como a abertura de Donten do aniversário do Katsura Kotarou. É uma técnica muito usada nos animes para economizar com novas aberturas. Gintama também utiliza o encerramento no lugar da abertura de vez em quando, sendo que a abertura se torna encerramento para apresentar a música completa através de um videoclipe de retrospectiva dos arcos.

A Arte da Série

Em Gintama, o cenário se passa muitas vezes no Distrito Kabuki, mas é incrível o número de cenários utilizados na série. Não ficamos presos somente numa rua asfaltada, ou na casa dos personagens principais, mas também vemos diversas outras casas, diversas outras cidades e até diversos outros tipos de biomas. Uma coisa interessante em Gintama é que normalmente eles utilizam uma imagem estática da Otose´s Snack em alguns episódios, que, de acordo com os personagens, é para economizar dinheiro. Algumas vezes o episódio inteiro fica com essa tela estática, apesar de mostrar uma ou outra cena nova. Por mais que pareça improvável, esses episódios são uns dos mais hilários da série. É divertido ouvir os gritos do Shinpachi implorando para trocarem o cenário que todos os telespectadores estão cansados, enquanto o Gintoki e a Kagura ignoram ele completamente.
Quanto ao design do cenário e dos personagens, ficou muito bom. É interessante ver a mescla entre o passado e o futuro: enquanto muitas pessoas ainda usam as antigas roupas feudais do Japão e ainda tenha construções no estilo medieval, existem milhares de carros circulando as ruas, naves voando pelos céus da Edo, canais de televisão e vendas semanais da revista Shonen Jump. Hideaki Sorachi tem também o hábito de reciclar designs de outras séries, desde o primeiro Gundam, a até a estrela da morte do Darth Vader. Claro que ele faz questão de pelo menos trocar o nome, e, em alguns casos, censurar o objeto e a pronuncia do nome.

Seus Miseráveis!! Como Ousam se Intitular Gintama!

Um ponto interessante da série é que nem todos os personagens são originais. Alguns como os membros da Shinsengumi realmente existiram, enquanto outros, como o Gintoki, fazem parte do folclore japonês. Apesar de suas personalidades e relações serem diferentes do que na realidade, alguns ainda mantém suas verdadeiras histórias. Não é um manual realista sobre o que aconteceu na era Edo, mas é o suficiente para despertar alguma curiosidade em quem quer saber um pouco sobre essa época.

Nas características dos personagens, a grande maioria do quadro é satisfatória.Temos os personagens utilizados pelo humor, enquanto outros são mais usados na ação, sendo esse ultimo tipo de elenco o menos usado. O background dos personagens é muito bom, algo que dificilmente acharia no mesmo nível em outras histórias. Todos sofreram na infância de alguma forma, e mesmo assim são bem humorados. A dosagem do drama foi boa, por isso não temos aquelas histórias de órfãos que perderam tudo na guerra sendo usado em 90% dos personagens. A única coisa ruim na série é o background do Gintoki, já que o autor nunca se manifestou escrever ele, se limitando a alguns míseros flashbacks e brincadeiras de primeiro de Abril.

Gintama é uma ótima escolha para quem procura boas séries para rir. Não irá agradar todo mundo, mas aqueles familiarizados com os animes se sentirão em casa com essa série.

*O óculos é o Shimura Shinpachi, um dos personagens de Gintama.