Análise - Bem vindo ao universo de Tegami Bachi - Letter Bee

Desde que Fullmetal Alchemist foi encerrado, ficamos órfãos de um shounen fantasia de qualidade. Temos diversos ótimos, como One Piece e Gintama, mas uma obra-prima era algo que eu sentia estar em falta. Mas eu só sentia, pois, durante 5 anos ele esteve lá, sem chamar atenção, e, mesmo assim, se tornando a obra que eu tanto buscava. Tenho o orgulho de trazer para a Sonic Connection a reescrita de uma review minha sobre um dos melhores animes/mangás que já pude assistir: Tegami Bachi - Letter Bee. Após assistir essa série, nunca mais verá os carteiros da mesma maneira que vê agora.


Amberground: o reino da noite
A história de Tegami Bachi se passa em Amberground, uma terra que não se vê mais a luz do dia, e, para iluminar, foi criado uma estrela artificial que fica somente sobre a capital Akatsuki. Para que as pessoas se comuniquem umas com as outras, elas precisam utilizar o serviço dos carteiros Letter Bee. Esses carteiros são treinados para atravessar grandes distâncias o mais rápido possível, além de saberem lutar contra os Insetos Blindados (seres que vivem se alimentando dos corações das cartas e das pessoas). O único modo de derrotar esses insetos, é utilizando uma Arma Sincera, que, através de um espírito âmbar, transforma o "coração" das pessoas em balas, que são usadas como munição da arma. Para auxiliar nas lutas, os Letter Bees contam com a ajuda de Dingos (parceiros), que podem variar de um cachorro, a até um mercenário bem pago.
Seis anos após o Dia da Tremulação, quando a estrela artificial piscou, o letter bee Gauche Suede, e seu dingo Roda, encontraram um garoto de 6 anos chamado Lag Seeing, acorrentado e inconsciente aguardando o serviços de correio para ser levado até Cambel Litus, a pedido da mãe que tinha sido sequestrada. Durante a aventura ambos acabam virando grandes amigos e, quando finalmente chegam em Cambel Litus, se separam prometendo se encontrar um dia. Seis anos depois, Lag, agora com 12 anos, foi aprovado no exame de aptidão para se tornar um Letter Bee, mas descobre que Gauche foi demitido a 4 anos atrás, e que estava desaparecido no mesmo período. Agora Lag, deverá descobrir o paradeiro de Gauche e de sua mãe.
Para mim, quando falam Shueisha, já penso em animes de luta sem sentido, aonde o personagem é o maldito de um adolescente que quer salvar o mundo. Nunca esperei que a Jump SQ, lar de porcarias como Ao no Exorcist, To-Love Ru, D.Gray-man e Rosario + Vampire, iria produzir algo nesse nível. Hiroyuki Asada, apesar de 25 anos de carreira quase apagados, comparado a autores mais jovens que tem milhares de obras em seus nomes, conseguiu desenvolver uma história tão bem construída, em um universo funcional, que fico me perguntando porque ainda continua com tão baixa popularidade.
A premissa da série é batida: um garoto que tem, como objetivo, resgatar um velho amigo que se tornou maligno. Naruto está nessa de perseguição ao Sasuke há anos, por isso nem coloquei expectativas sobre Tegami Bachi, mas me surpreendi que a história não ficou massante. Apesar de ser o pilar principal da série, a história não se limita nisso, tendo o drama das pessoas que vivem nas regiões pobres, e que sonham em viver perto da estrela artificial, além, também, do mistério sobre o que acontece com os habitantes de Akatsuki e o que foi o "Dia da Tremulação".
O desenvolvimento rápido da série também é um fator bacana, principalmente para uma revista mensal. Letter Bee não perde tempo com histórias aonde nada vai acontecer, sendo que todo episódio é continuação do anterior, com exceção dos capítulos que servem como pausa para respirar. Não temos flashbacks inúteis que não acrescentam em nada a vida do leitor, e que só servem para poluir uma obra, mas os flashbacks são frequentes. Também não temos treinamentos para elevar seus poderes para poder participar da próxima luta. 
O maior ponto negativo foi a criação do anime, já que a primeira temporada viveu de fillers, enquanto a segunda temporada foi, praticamente, uma falta de respeito a minha inteligência. O número de contradições e besteiras presentes no final do Reverse são muitas, sendo o maior deles o final, aonde foi usado todos os mais famosos clichés de animes de batalha.
O ecchi está presente em Tegami Bachi, mas é algo raro de se acontecer, além de inevitável. Não é aquele ecchi forçado, que nem Highschool of the Dead, mas sim algo leve, e que aparece poucas vezes. Atualmente só foi encontrado dois casos dentro da obra, que até presente momento não foi repetido.
A maior surpresa minha em Tegami Bachi foi a presença de uma mitologia própria. Milhares de animes se embarcam numa versão alternativa do cristianismo, e outros usam a nórdica como referência. Mas Tegami Bachi, mesmo tendo referência a mitologia nórdica (Bifrost), tem sua própria mitologia, apesar de algo simples.

Um trabalho sonoro digno de aplauso
Já cansei de falar isso, mas existem poucos trabalhos sonoros que me emocionaram pelo esforço, e Tegami Bachi foi um deles, dando destaque para a segunda temporada, a infame "Reverse. As músicas ajudam bastante na hora de comover o público, enquanto outras dão uma sensação de satisfação no interior do telespectador. Os destaques são as músicas Lag & Niche, Town of Kyrie, Canon of Amberground e Tsuioku no Aria Recollections.
Os encerramentos de Tegami Bachi foram tão lindas, que eu acabei me pegando brigando quando alguém resolvia pular elas. As músicas não são com um clima triste, na qual se encaixariam perfeitamente no anime, e sim alegres, com exceção do encerramento Wasurenagusa, e a abertura Yakusoku, cujo são justamente os destaques do anime, ao lado de Perseus.

Tem certeza que isso não é shoujo?
Talvez eu tenha sido o único, mas, em determinados momentos, os traços de Hiroyuki Asada lembram mais shoujo do que shounen. Não que eu não goste, mas é que algumas cenas os personagens parecem delicados demais. Mas não posso negar que o trabalho artístico da série é bonito. Os territórios de Amberground ficaram de parabéns, apesar de sua maioria ser deserto. Mesmo assim temos algumas regiões diferentes, como a Broccoli Forest e Blue Notes Blues. Não digo que é irritante ver o mesmo cenário por toda a Amberground, mas seria bacana o autor variar mais, pois isso só enriqueceria a série.
Depois temos o carácter design, aonde os personagens são bem desenhados, mas as roupas nem tanto. As roupas dos civis ficaram bacanas, mas meu problema é com o uniforme dos carteiros, que podia ter sido algo bem mais elaborado (aquele azul é de matar!). Outro ponto interessante é a questão da cor racial: temos uma quantidade enorme de albinos (entre os personagens principais, a conta dispara), enquanto outros são brancos. Mas e os negros? Antes que comecem a apedrejar o mangá, devem se lembrar que Amberground não tem luz solar, e a luz artificial só serve para iluminar. Como não temos raios ultravioletas em Amberground, então os habitantes não tem como desenvolver melanina, explicando a sociedade ariana e albina na história. Alguns mangás que seguem nesse mesmo caminho colocam negro somente para não dizerem que são racistas, deixando um enorme buraco sem explicação. Hiroyuki Asada fez o favor de não causar o mesmo erro.


Personagens Carismáticos
O maior mal de uma história é criar um monte de personagens, e depois não saber como trabalhar. Hiroyuki Asada não é nenhuma Hiromu Arakawa, mas fez um bom trabalho ao utilizar bem seus milhares de personagens. Alguns que nunca apareciam, como Jiggy Pepper e Mock Sullivan, conseguiram destaque durante a guerra contra o Cabernet. Cada personagem tem algo que faz com que as pessoas se apeguem a eles, e todos são trabalhados em seus devidos momentos. Não é uma história, aonde somente o personagem principal é desenvolvido, mas o todos evoluem juntos.
Muita gente que viu Tegami Bachi, crucificou o coitado do Lag Seeing, chamando ele de emo e chorão, além de viado. Mas, alguém lembra que Lag só tem 12 anos de idade? Quando eu tinha 12 anos também era chorão, como muitas crianças. Levando em conta todo o sofrimento que ele passou, ele não teria razão em chorar? Se compararmos com outros personagens de 12 anos, veremos que Lag é um dos poucos que se comporta de acordo com sua idade.
Talvez o maior erro nos personagens, foi a criação da Lily Confort, uma personagem que só entrou para fazer uma péssima tentativa de criar drama no enredo. Seria aceitável, se a cena não fosse um repeteco do caso da Sunny. Talvez seja cedo para dizer algo, mas a impressão que Lily Confort deixou em mim não será algo que deixará tão fácil.

Mesmo sumido, Tegami Bachi está cumprindo sua tarefa como melhor shounen da atualidade. Se você busca um bom enredo, num universo fantástico, com bons personagens, Tegami Bachi é a melhor escolha sua. Mas se busca um enredo mais sério, talvez este não irá te agradar tanto.

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